O fisioterapeuta Claudio Cotter fala sobre a
niomecânica dos calçados de corrida e para onde vamos a partir daqui
No último mês, tive o prazer de
participar da palestra do Prof. Dr. Darren Stefanyshyn, da Universidade de Calgary
no Canadá sobre biomecânica dos calçados. Durante o evento o professor trouxe
comentários em vídeo de diversos pesquisadores pelo mundo, com os quais ele
mantém contato e comentou os artigos mais atuais sobre a biomecânica de
calçados.
O lado bom de ouvir este tipo de
palestra é que ela se afasta de qualquer influência de patrocínio das marcas, o
objetivo maior é realmente o entendimento sobre o que é consenso hoje no mundo
científico e quais são as lendas que se tornam verdade pela repetição entre as pessoas
mal informadas.
Alguns estudos abordados mostraram
que o amortecimento em excesso diminui a performance dos atletas por absorver
demais a força de reação do solo e não permitir que esta força seja transmitida
pelo corpo resultando em maior propulsão, mas só até um limite. Pois também se
observou em alguns estudos que à partir de um certo grau de dureza o atleta
começa a perder performance.
Importante ressaltar também que não são todos que vão apresentar estes
aumentos de angulações Foto: Divulgação
Por observar que um calçado com sola
mais macia vá provocar uma exigência maior em termos de pronação do pé e até
mesmo de uma rotação interna do joelho na aterrissagem que chamamos de valgo
dinâmico (imagem da esquerda abaixo), com certeza este esforço maior vai
provocar uma perda de performance, mas esta já é uma interpretação minha em
relação ao que foi falado na palestra e baseado na discussão que pudemos fazer
ao final.
Importante ressaltar também que não
são todos que vão apresentar estes aumentos de angulações, pois existem pessoas
com maior facilidade de adaptação, que são provavelmente as que terão menos
lesões pela vida e as que tem maior dificuldade de se adaptar, que não por
acaso terão que se preocupar muito mais em prevenir lesões.
Outro dado interessante, este já
podemos perceber na mudança de estratégia de algumas marcas esportivas, é que
cada vez mais vamos observar uma diminuição da importância de comprar tênis
especifico para pronador, por exemplo. Mesmo com uma pronação intensa, pois os estudos
estão concluindo que o índice de lesões em pessoas que usam calçados
específicos ou não é o mesmo, ou seja, o corpo se adapta ao calçado,
independente de qual seja, o problema são as transições rápidas de um tipo de
calçado para outro, este sim pode ser um risco de lesão.
Um exemplo de transição rápida que
pudemos vivenciar a pouco tempo, foi quando uma grande quantidade de pessoas
compraram tênis minimalistas e não fizeram uma transição lenta, para permitir
que o corpo se adaptasse gerando um número enorme de corredores com lesões por
estresse ósseo.
Os estudos também mostram que a
adaptação ao drop, diferença entre a altura da sola do calcanhar e do antepé, é
gradativa. Pode ocorrer tanto para uma pessoa que corre de minimalista, que é o
calçado com 0mm de drop e passa para um drop de 12mm, como no caminho inverso.
É a definição do tipo de calçado que vai levar o corredor a entrar com o
calcanhar ou com a frente do pé na hora do pouso.
A recomendação que faço a meus pacientes continua sendo a mesma, dê
preferencia para calçados neutros Foto: Divulgação
Segundo a maior parte dos
pesquisadores que falaram durante a palestra, a grande tendência da indústria
de calçados será a personalização do mesmo criando até a hipótese de pequenas
fábricas dentro das lojas capazes de montar um tênis específico para cada
corredor, que poderá escolher a dureza do solado, a palmilha, o drop e todo
tipo de personalização que cada marca puder imaginar.
A recomendação que faço a meus
pacientes continua sendo a mesma, dê preferencia para calçados neutros, pois
muitas das alterações do gesto do corredor e da pisada podemos tratar com
fisioterapia a partir da análise por vídeo e treinamento de cada fase do gesto
esportivo.
Em último caso recomendamos a
confecção de palmilhas proprioceptivas, que são personalizadas a partir de
avaliação postural e baropodometria. Outra recomendação é evitar os calçados
muito macios e sempre consultar um profissional que entenda do assunto para
definir qual o drop ideal para você.