segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Aluno do Tocantins, que usa mãos para se locomover, conquistou três ouros nas Paralimpíadas


O estudante diz estar realizando muitos sonhos por meio das paralimpíadas - Núbia Daiana Mota/ Governo do Tocantins

Quem conhece piçarra, uma espécie de cascalho, sabe que solos como este dificultam a locomoção de bicicletas, motos e até mesmo de pedestres. Imagine então transitar numa cadeira de rodas nessa situação. Por causa disso, o paratleta tocantinense Flaymesson Cortez, que mora no povoado de Piaçava, município de Nazaré, decidiu largar a cadeira de rodas e passou a se locomover usando somente as mãos e a força dos braços.
Ele nasceu com os membros inferiores atrofiados, mas realiza diversas atividades usando só as mãos, como dançar e jogar futebol com os amigos da Escola Estadual Piaçava.
Para ele, deixar de usar a cadeira foi um grande passo para a independência. "Eu ficava dependendo da família, de amigos para ir aonde eu queria e dava muito trabalho empurrar a cadeira na piçarra, passar nos buracos, subir ladeira. No início doía bastante, cortava, fazia calo. Agora nem sinto mais nada e vou para qualquer lugar. Estou até em São Paulo", brinca.
Revelação no Esporte
Na Capital paulista para defender o Tocantins nas Paralimpíadas Escolares 2019, o jovem de 16 anos foi um dos destaques da competição, e campeão nacional nas três provas que disputou. Os ouros foram conquistados no arremesso de peso, de dardo e de disco.
Para ele, a história no atletismo está só começando. "É muito bom ter conquistado todos esses ouros, só que eu estou acostumado a lançar muito mais longe, porque eu treinava do chão. Tive um pouco de dificuldade com a cadeira. Agora vou usar a cadeira só para treinar e voltar no ano que vem para arremessar ainda mais longe", planeja empolgado.
Paradesporto Escolar
Todo o talento do jovem foi descoberto pelo profissional de educação física Diego Barbosa, intermediado pelo professor de geografia Waldonez Rocha. Diego é assessor de Desporto, Cultura e Lazer na Diretoria Regional de Tocantinópolis. Apesar de morarem em cidades diferentes, é ele quem acompanha o treinamento de Flaymesson.
"Nunca tínhamos nos visto pessoalmente. Quando soube da história dele, apresentamos a ele a possibilidade de ser um paratleta, de participar dos Jogos paradesportivos do Tocantins (Jets) e, desde então, ele nos surpreende a cada dia. Flaymesson tem muita força não só nos braços, mas também força de vontade e dedicação. Foi um presente conhecê-lo. Ele me inspira a cada dia, a melhorar como pessoa e como profissional", diz.
No povoado de Piaçava, onde a população não chega a 500 pessoas, o retono de Flaymisson é esperado com ansiedade. "Estamos preparando uma grande festa para receber nosso maior campeão. Flaymesson é muito querido por todos daqui. É uma pessoa que não se vitimiza, que gosta de ser independente, proativo e um excelente aluno. Ele é um exemplo de vida para todos nós", relata Waldonez.
O esporte tem sido um divisor de águas na vida do estudante, que nem em sonhos imaginava ser um paratleta. "Eu via os deficientes competindo na televisão, mas achava que aquilo não era para mim. Agora, eu não sei viver mais sem o esporte. Quero ser um paratleta profissional", revela.
Flaymesson conta que participar das Paralimpíadas Escolares foi também a realização de sonhos pessoais. "Eu  sonhava viajar de avião e conhecer São Paulo. Nem estou acreditando direito ainda que ganhei três ouros e vivi tudo isso. Sem falar na trocas de experiências com tantas pessoas que são igual a mim e que querem seguir carreira no esporte".





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