quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Meia do Rio, SP City: por que corridas querem saber mais da sua saúde


Ludimila HonoratoDe VivaBem, em São Paulo
https://www.uol.com.br/

A participação popular em corridas de rua tem crescido e é vista como positiva, mas vem acompanhada de mais ocorrências de saúde e cada vez mais graves. De câimbras e torções até confusão mental e morte súbita, os registros entraram no radar de quem organiza os eventos, que agora cobram por mais informações de saúde dos participantes.

O que aconteceu

A Meia do Rio adotou declaração exclusiva de saúde. A 27ª edição internacional organizada pela Yescom foi a primeira do catálogo da empresa a implementar a mudança. "Fizemos um desmembramento: o termo de responsabilidade é um e a declaração de saúde é outro [documento]", explica o CEO Thadeus Kassabian.

Tradicionalmente, o termo de responsabilidade é um e a declaração de saúde é outro [documento]", explica o CEO Thadeus Kassabian.

Tradicionalmente, o termo de responsabilidade está junto ao regulamento do evento. O documento já inclui um trecho sobre a pessoa estar em "perfeito estado físico e de boa saúde no geral" para participar da prova. Mas a organização deixou a autodeclaração de saúde à parte dentro do processo de inscrição.

Inscritos receberam informações complementares. "Enviamos um informe falando que eles, ao participarem do evento, aceitaram esses termos, e com informações sobre os pontos de apoio e o percurso." A nova medida será adotada em outras provas pela Yescom.

Informação médica e obrigatoriedade são os próximos passos. No médio prazo, o site de inscrição da Yescom deve ter uma área para inserir o CRM do médico que acompanha o participante e o liberou para a prova. Num primeiro momento, o atestado de saúde será opcional, mas Kassabian prevê que se torne uma exigência obrigatória depois.

Podemos ter perda, inclusive de clientes, mas creio que é temporário. As pessoas podem optar por participar de provas menos burocráticas, mas queremos oferecer segurança.

Thadeus Kassabian, CEO da Yescom.

Atestado de saúde é discutível

A SP City Marathon também adotou novas medidas este ano. O evento organizado pela Iguana Sports contou com um QRcode no número de peito que abria um aplicativo para chamados de emergência. Com geolocalização, qualquer pessoa que peça ajuda para si ou outro pode ser achada com mais facilidade, fazendo o socorro chegar mais rápido. Um telefone de emergência com ligação gratuita também está na identificação do atleta.



SP City Marathon teve mais de 24 mil inscritos em 2025, 20% a mais do que no ano anterior

Imagem: Adam Tavares

Questionário médico teve 80% de adesão. Após a inscrição, os participantes receberam por email um formulário para preencher contato de emergência e informações básicas de saúde, como alergias e doenças já conhecidas. "Ao identificar um chamado pelo número de peito, a equipe já puxa a ficha da pessoa no momento em que faz o atendimento", diz Paulo Carelli, diretor de operações e diretor de prova na Iguana Sports.

Atestado de saúde ainda não é uma opção obrigatória para a Iguana. Carelli acredita que exigir o documento pode afastar as pessoas das corridas. "Muita gente não tem acesso a um médico particular que poderia realizar exames e dar atestado válido. O sistema de saúde não consegue atender pessoas que queiram um atestado para participar de corrida, então a gente colocaria uma barreira."

"A gente acredita muito mais numa campanha que alerta as pessoas para realizar exames preventivos, estarem atentas ao estado de saúde delas antes de se expor a esforço excessivo, do que cobrar atestado que pode ser obtido de forma nem sempre idônea". - Paulo Carelli, diretor de operações e diretor de prova na Iguana Sports.

Exigir documento criaria um novo problema, ele avalia. "É difícil para o médico que não conhece a pessoa emitir atestado e assumir responsabilidade por pessoa de quem ele não tem histórico. Obter por obter é transferência de responsabilidade que não tem benefício para ninguém", afirma. Mas ele disse que, caso a pessoa tenha um atestado, a organizadora terá um espaço no sistema de inscrição para aceitá-lo.

Mais corredores, mais ocorrências

Novas medidas são motivadas por mais casos graves. A Maratona do Rio, organizada por Dream Factory e Spiridon, teve um aumento de 40% nos atendimentos médicos na prova deste ano em relação a 2024. A médica do esporte Flávia Magalhães, que atua há 15 anos na equipe médica da prova, diz que os casos têm sido mais graves também, como fratura de fêmur, o que deixou a sala vermelha do hospital de campanha lotada.

Casos podem ocorrer entre iniciantes e veteranos. "Muitas vezes, não está relacionado a pessoas mais descondicionadas. A gente pega pessoas com bom condicionamento, que estão treinando bem, mas estão no overtraining [excesso de treinamento]", observa a médica e diretora de provas Ana Paula Sierra.

"No geral, as pessoas estão precisando de mais atendimento e atendimento mais especializado, algo que se mandar para o pronto-socorro, se não tem especificidade, não vai saber tratar". - Ana Paula Sierra, médica e diretora de provas de corrida

Organizações ficaram mais criteriosas. Socorristas em motos e ambulâncias ao longo do percurso, mais profissionais de saúde atuando e mais e mais capacitação foram estratégias na Maratona do Rio. "Hoje, tem assistente social dentro do hospital de campanha, que aciona o contato de emergência. Esse ano tivemos nutricionista como novidade e tem farmácia com farmacêutico também", diz Magalhães.

Médicas são a favor de atestados de saúde. Sierra se lembra de ter atendido uma mulher com mais de 12 crises convulsivas. "Eu dava uma medicação e não funcionava. Se eu já soubesse que ela tomava remédio mais forte, teria começado por ele e controlado mais rápido", diz.

Documento preserva a imagem da corrida, avalia Magalhães. Além de ser benéfico para o atendimento dos atletas, a médica diz que, diante de intercorrência, os organizadores ficam isentos de problemas jurídicos, uma vez que havia documento comprovando aptidão física. "Mas isso não impede de abrir conversa com a população sobre se cuidar, olhar para a carga de esforço. Precisa de acompanhamento."

"Jeitinho brasileiro" seria um desafio. "Já atendi homem com atestado assinado por ginecologista", conta Sierra. Outros problemas apontados pelas profissionais e pelas organizadoras de corrida é a presença de "pipocas" (corredores que participam da prova sem inscrição) e de atletas que correm com o número de peito de outra pessoa.

Casos atrapalham e sobrecarregam o atendimento médico. "Pipocas não são bem-vindos nos eventos da Yescom", diz Kassabian. "Quando você faz estrutura médica para o evento, pensa em corredores oficiais. Ter de atender pipocas amplia a possibilidade de risco."

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