DENISE MIRÁS
Colaboração para o UOL, de São Paulo
05/09/2021 12h00
Enquanto o mundo discute mais seriamente a aplicação e a ética da neurotecnologia em super-humanos e o Comitê Paralimpico Internacional (CPI) lança a campanha #WeThe15 por mais inclusão social (em referência aos 15% da população mundial com algum tipo de deficiência, mais de um bilhão de pessoas), um atleta alemão reacende o debate sobre a participação de atletas e paralímpicos em um mesmo evento.
Saltando com próteses, Markus "Blade Jumper" Rehm tem 8,62m como recorde mundial do salto em distância. Com essa marca, seria ouro nas sete últimas Olimpíadas, mas o alemão compete na classe T64 das Paralimpíadas (deficiência nos membros inferiores, com próteses). Ele tem três ouros consecutivos, o último deles conquistado com 8,18m na última quarta-feira (1), nos Jogos de Tóquio-2020.
Ele destaca, com relação a parecer "tão fácil" saltar com as próteses, o quanto é difícil se adaptar, na velocidade da corrida. Lâmina é apenas lâmina. Nela, não é possível alterar a rigidez: se mais dura, responde muito rápido; se mais maleável, não responde rápido o suficiente. É preciso acertar o ponto certo, explica o saltador, ao contrário de quem conta com pernas e músculos, que são "controláveis".
Para ele, está provado que "existe um atleta por trás da lâmina" na medida em que seus adversários contam com as mesmas próteses que ele - que salta mais longe. Basta ver que, além dos 8,18 de Rehm em Tóquio, nenhum outro finalista do salto em distância conseguiu chegar aos 8,00m.
O velocista Oscar Pistorius chegou a correr com suas próteses nos Jogos Olímpicos de Londres-2012, mas o movimento foi estancado ali (o sul-africano depois foi condenado e preso por assassinato). Markus Rehm volta a lutar pela chance e diz que seu maior sonho é aproximar atletas olímpicos e paraolímpicos. Que, se tivesse a permissão de competir em Olimpíadas, mais um passo seria dado nesse sentido, destacando que certamente haveria pessoas interessadas em assistir.
Logo unificado
As questões continuam vivas, da equiparação dos atletas à logística, da sobrevivência dos grandes eventos ao marketing e às audiências. Sir Philip Craven é um dos que defendia a fusão de Jogos Olímpicos e Paralímpicos em algum momento. Ele é da Grã-Bretanha, berço dos Jogos Paralímpicos, tem 71 anos e antecedeu o brasileiro Andrew Parsons na presidência do Comitê Paralímpico Internacional. Em Londres-2012, defendeu a unificação dos Jogos ainda que houvesse problemas de logística e prometeu até "não desistir da ideia".
A italiana Beatrice "Bebe" Vio, de 24 anos, que compete mesmo com amputação nas duas mãos e nas pernas na esgrima em cadeira de rodas, também defende a unificação. Ouro e prata por equipes no florete em Tóquio-2020 e com milhões de seguidores nas redes sociais, ela diz em seu site oficial que tem "sonho de unificar todos os esportes, olímpico e paraolímpico, e garantir que competições importantes sejam disputadas simultaneamente".
Trabalhando pelo movimento paralímpico em seu país, Vio espera que esteja nivelado com o olímpico em oito anos. "Isso exigirá um impulso cultural, uma mudança de mentalidade e muita energia, que virá principalmente das crianças", diz.
E Paris-2024 já acena com um mesmo logotipo, da Torre Eiffel estilizada sobre os cinco aros e sobre os três agitos.
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